NEOPRIMATECON
Os primatas humanos também estão ameaçados mas continuam apostando nas soluções tecnológicas, quase milagrosas. No entanto, elas não trarão de volta os genomas perdidos, depois de tantos milhões de anos de evolução. Mesmo que trouxessem, já não existiriam mais as condições ecológicas do passado para permitir uma completa restauração. Nos resta apenas nos contentarmos com o que sobrar, geneticamente falando.
domingo, 23 de abril de 2017
O Homo sapiens é um carnívoro?
sábado, 18 de julho de 2015
Sobre ilustrações de duas espécies de SAGUINS ou SAUINS amazônicos do gênero Saguinus
Os primatas em questão eram respectivamente o bugio vermelho (Alouatta seniculus e o Saguinus bicolor Martinsi), este último ainda muito pouco conhecido da ciência zoológica. Note que nesta descrição Martinsi aparece como subespécie de Saguinus bicolor. Estudos posteriores corrigiram esta situação. As pesquisas sobre Alouatta seniculus não tiveram desdobramentos mas foi muito importante a interação com Dr. Paulo Roberto em relação ao gênero Saguinus. Na época ele era estagiário do Departamento de Vertebrados do Museu Nacional (UFRJ) na Quinta da Boa Vista, Rio de Janeiro, RJ. O grande mérito desta proposta foi que - pela primeira vez no mundo – tivemos em cativeiro um exemplar do Saguinus Martinsi.
Como são raras as fotos desse primata, achamos por bem apresentar o indivíduo que recebemos na época, já devidamente aclimatado às nossas condições ex situ no Centro de Primatologia do Rio de Janeiro. Para não perder o momento também apresentamos imagem do sagui de duas cores (Saguinus bicolor) já que esta espécie amazônica está ameaçada de extinção exatamente onde se situa a cidade de Manaus e seus arredores. Com o aumento da população brasileira e da urbanização desordenada ou não, os espaços florestais vão desaparecendo e tornando inviável a vida dessas espécies notoriamente arborícolas. A IUCN categorizou Saguinus bicolor como EM PERIGO (EN=ENDANGERED) conforme consta de sua lista vermelha: www.redlist.org .
Saguinus bicolor no Centro de Primatologia em 2001. (Foto Roberto Rocha)

Saguinus Martinsi no Centro de Primatologia em 2002, (Foto Roberto Rocha).
Segundo a IUCN a situação de Saguinus Martinsi é pouco preocupante (LC=LEAST CONCERN) e esta espécie não está sob ameaça imediata. No entanto, há mineração de bauxita na região inferior do rio Trombetas, motivo de preocupações.
Saguinus Martinsi apresenta duas subespécies que vivem muito próximas geograficamente, a saber: Saguinus Martinsi Martinsi e Saguinus Martinsi ochraceus.
Tomei ciência dessas duas espécies de primatas endêmicos da amazônia através de uma prancha colorida – das quarenta e duas feitas pelo desembargador Dr. Eladio da Cruz Lima (1900-1943) – no livro “Mamíferos da Amazônia” – uma contribuição do Museu Paraense Emílio Goeldi de História Natural e Etnografia, Belém do Pará, 1944. Formado em direito pela Universidade do Rio de Janeiro, em 1925, o paraense Eladio também era excelente desenhista e atuou como auxiliar do professor Alípio de Miranda Ribeiro na Seção de Zoologia do Museu Nacional da Quinta da Boa Vista, Rio de Janeiro. Depois que retornou ao Pará, em 1926, associou-se aos trabalhos de zoologia do Museu Paraense Emílio Goeldi.
Os estudos iniciais sobre a mastofauna amazônica tiveram em Goeldi um dos seus principais incentivadores. Em 1904, publicara com Godofredo Hagmann (da Seção de Zoologia do Museu) “Prodomo de um catálogo crítico, comentado da collecção de Mammiferos no Museu da Pará”. Esse documento apontou 111 espécies de mamíferos brasileiros, quase todas da região amazônica, e foi a primeira grande contribuição desde a reorganização do Museu Paraense, a partir de 1894. Perceba-se aqui a carência de trabalhos científicos escritos no Brasil, em relação à nossa fauna.
A prancha XXXIII de Eladio da Cruz Lima ilustra Marikina bicolor (1) e Marikina Martinsi (2) em posições naturais tendo ao fundo um cenário florestal amazônico. Podemos afirmar que ao Dr. Eládio cabe o mérito de organizar o primeiro documento detalhado, em português, sobre as espécies de primatas da Amazônia. Embora sua formação fosse na área jurídica demonstrou um enorme cuidado ao consultar outros pesquisadores da época, organizando chaves de classificação, tecendo comentários sobre a coloração dos exemplares, biometria, origem do tipo e observações gerais comparativas sobre cada espécie.
Os mesmos saguins amazônicos foram ilustrados por Stephen D. Nash em “Marmosets and Tamarins” – Pocket Identification Guide - graças à iniciativa da Conservation International (CI) divulgando a biodiversidade do mundo através de sua “Tropical Pocket Guide Series”. Este prático guia de bolso apresenta um total de 61 espécies de pequeno porte, ilustrando os gêneros Cebuella, Callibella, Mico, Saguinus, Callimico, Callithrix e Leontopithecus.
As imagens dos primatas estão sobrepostas a um pequeno mapa da sua região de ocorrência no Brasil. Veja as figuras abaixo que foram devidamente recortadas do guia de bolso e alinhadas horizontalmente para facilitar a comparação das espécies. O sauim da direita (Saguinus Martinsi) está um pouco menor do que seu tamanho original.
Quanto aos primatas da região oriental brasileira, em especial do bioma Mata Atlântica, o Centro de Primatologia/INEA alcançou também diversos sucessos reprodutivos publicando trabalhos inéditos que ampliaram o conhecimento primatológico no Brasil, tendo como seu principal mentor o professor Adelmar Coimbra Filho. Foram reproduzidos em cativeiro diversos exemplares de Callithrix, Leontopithecus, Cebus (=Sapajus) e Brachyteles.
A patologia de primatas neotropicais foi igualmente beneficiada através de estudos realizados com diversas instituições nacionais e internacionais, especialmente pelas contribuições do médico veterinário Dr. Alcides Pissinatti.
O professor Coimbra (in memoriam) deixou um legado científico e conservacionista relevante para o Brasil. Atualmente a chefia do Centro de Primatologia permanece aos cuidados do médico veterinário Dr. Alcides Pissinatti.
BIBLIOGRAFIA
Ayres, J. M. R., Mittermeier, R. A. and Constable, I. D. 1980. A distribuição geográfica e situação atual dos sagúis-de-cara-nua (Saguinus bicolor). Bol. FBCN, Rio de Janeiro 16: 62-68.
Cruz Lima, E. 1945. Mammals of Amazônia. I. General Introduction and Primates. Contrib. Mus. Paraense Emílio Goeldi Hist. Nat., Ethnogr., Belém do Pará, Rio de Janeiro. 274pp.
Egler, S. G. 1983. Current status of the pied tamarin in Brazilian Amazônia. IUCN/SSC Primate Specialist Group Newsl. (3): 20.
Egler, S. G. 1986. Estudos bionômicos de Saguinus bicolor (Spix, 1823) (Callithricidae, Primates) em uma mata alterada em Manaus, AM. Master’s thesis, Universidade Estadual de Campinas, Campinas.
Hershkovitz, P. 1966. Taxonomic notes on tamarins, genus Saguinus (Callithricidae, Primates) with descriptions of four new forms. Folia Primatol. 4(5): 381-395.
Mittermeier, R. A., Bailey, R. C. and Coimbra-Filho, A. F. 1977. Conservation status of the Callitrichidae in Brazilian Amazonia, Surinam, and French Guiana. In: The Biology and Conservation of the Callitrichidae, D. G. Kleiman (ed.), pp.137-146. Smithsonian Institution Press, Washington, DC.
Oliveira, L. de Carvalho et al. 2004. New records of Martins`bare-face tamarin, Saguinus Martinsi (Primates: Callitrichidae). Neotrop. Primates 12 (1): 9-12.
Rylands, A. B., Bampi, M. I., Chiarello, A. G., Fonseca, G. A. B. da, Mendes, S. L. and Marcelino, M. 2003. Saguinus bicolor. In: 2003 IUCN Red List of Threatened Species. Website:
Obs.: as informações sobre Eládio da Cruz Lima e sobre o Museu Paraense Emilio Goeldi foram transcritas do próprio livro Mamíferos da Amazônia a partir dos conteúdos de suas páginas iniciais.
domingo, 26 de fevereiro de 2012
REINTRODUÇÃO DE PRIMATAS E OUTRAS ESPÉCIES
Esses fatos curiosos estão associados a uma ciência atual conhecida como Biogeografia, que estuda a distribuição dos organismos no planeta. Ela mesma pode ser subdividida em Fitogeografia (estuda a distribuição dos vegetais) e a Zoogeografia (estuda a distribuição dos animais). No caso dos estudos das criaturas fósseis, temos também a Paleobotânica (ciência que estuda vegetais que já desapareceram no tempo geológico) e a Paleozoologia (idem, para os animais). Essas ciências são importantes para conheçamos a história da vida na Terra e sua evolução.
O conhecimento científico desenvolvido pelo estudo do relacionamento dos organismos entre si e como os ecossistemas onde vivem, tem ajudado nas ações de manejo de fauna e flora, seja para fins econômicos, seja para a preservação de espécies. Por exemplo, a Etologia – ciência que estuda o comportamento das criaturas - pode contribuir de forma definitiva para se tentar salvar uma espécie da extinção.
Embora a Ecologia - como ciência multidisciplinar – ainda seja muito recente, já existem pesquisadores interessados em saber como as espécies usam os seus respectivos “ambientes” e que trocas ocorrem nessas interações. Uma das ciências interessadas nessa área é a Primatologia - que estuda a vida dos primatas. Esta ciência vem recebendo múltiplas contribuições por parte dos pesquisadores em geral.
Diversos trabalhos têm sido publicados tanto por parte de quem se interessa pela biomedicina, como por parte dos conservacionistas. Os estudos ecológicos envolvendo primatas no Brasil crescem rapidamente, envolvendo especialistas de diversas áreas. Entre tantas medidas necessárias, conhecer o comportamento alimentar/reprodutivo de uma espécie é fundamental para se iniciar um “programa” de preservação.
MURIQUI ou MONO-CARVOEIRO, o maior primata brasileiro que pode pesar 15 quilos.
Assim como acontece com a espécie humana, os primatas não-humanos também se organizam em grupos organizados que são mantidos através de regras rigorosas de hierarquia. A organização da família não é igual para todas as espécies. Em relação ao comportamento reprodutivo, por exemplo, um macho pode copular com mais de uma fêmea, como no caso dos muriquis (Brachyteles arachnoides e B. hypoxanthus). Eles são os maiores primatas do Brasil.



Corai, P. S. (ed.) (2011). Global Re-introduction Perspectives: 2011 More case studies from around the globe. Gland, Switzerland: IUCN/SSC. Re-introduction Specialist Group and Abu Dhabi, UAE: Environment. Agency-Abu Dhabi. xiv + 250 pp.
OS PRIMATAS E SEUS TERRITÓRIOS: naturais, construídos e invadidos.
Outros primatas que costumam aparecer em documentários e vídeos sobre a África e a Ásia, por exemplo, o babuíno (Papio), o mandril (Mandrillus), o “rhesus” (Macaca), guenons (Cercopithecus), entre outros.
Na região oriental do Brasil estamos mais familiarizados com os saguis (Callithrix, Leontopithecus), o macaco prego (Cebus), guaribas (Alouatta), guigós (Callicebus), muriquis (Brachyteles). Na Amazônia vivem os “aranhas” (Ateles), “barrigudos” (Lagothrix), “uacaris” (Cacajao), “cuxius” (Chiropotes), macaco-de-cheiro (Saimiri), macaco-da-noite (Aotus), paraguaçus (Pithecia), sauins (Saguinus e Mico), sagui-leãozinho (Cebuella), soim-preto (Callimico) e um dos recém-descobertos, o sagui-anão (Callibella).

Organismos de maior porte, em especial, necessitam de vastas áreas, para a sua sobrevivência. Essas populações geralmente são limitadas por barreiras ecológicas naturais – como um grande rio ou uma cadeia de montanhas muito elevada, fazendo com que uma espécie permaneça durante milhares de anos numa mesma área de distribuição.
O longo tempo de “convivência” faz com que existam “códigos de tolerância e respeito” – todos invisíveis - mas que garantem o uso dos recursos naturais disponíveis num mesmo espaço. Isso ocorre através do que podemos chamar de “cooperação não declarada”. Quando um primata come um fruto na parte mais alta da floresta (dossel), ele está na verdade, alimentando outros animais que estão lá em baixo. Ele não está apenas “comendo”! Ele está “distribuindo” alimentos para outros organismos! Mesmo as sementes que engole, serão “defecadas” em outros pontos, renovando estoques de alimentos no futuro. Ao comer, um primata está alimentando fungos, bactérias e formigas que vivem lá em baixo, na grossa massa de folhas mortas e detritos encharcados. Mas nós não enxergamos dessa forma. Somos simplificadores: apenas vemos “um macaco comendo”, e nada mais...
Nas complexas florestas, os consumidores perfeitamente integrados em suas teias vão cumprindo seus ciclos biológicos, como que fizessem parte de uma grande família, onde mesmo não sendo pai ou mãe, avô ou avó, são mantidos fortes laços de dependência vital.
Mas eis que resolvemos transpor barreiras com as nossas naus, carroças, e animais, permitindo que espécies conhecessem regiões nunca dantes visitadas. Atravessamos grandes rios e galgamos altas montanhas. Levamos animais de uma região para outra, onde eles nunca existiram e – com certeza – causamos alguns transtornos com isso, embora nem sempre tenhamos essa perfeita compreensão.
Uma floresta “montana” (floresta serrana) pode ser algo intransponível para quem sempre viveu na baixada. Plantas que vivem nas terras baixas não são as mesmas que vivem em pontos mais altos. A espécie não consegue “reconhecer” um novo alimento em “terras estranhas”. Melhor ficar dentro de lugares onde tudo é imediatamente familiar.
Dos primatas recentes distribuídos pelo mundo, somente o homem (Homo sapiens) tem sido um vitorioso em conquistar e ocupar diversos biomas terrestres, incluindo os desertos de areia, os desertos de gelo, campos, savanas e florestas chuvosas. Para cada ecossistema, uma estratégia diferente, com armas adaptadas às necessidades de cada situação, abrigos degradáveis, construídos com materiais da própria floresta, conhecimento do entorno, do rio, do clima, do solo, das plantas e dos animais.
Nossos ancestrais, os “ecologistas trogloditas” eram bem mais competentes do que os atuais, em questões de sobrevivência natural. Digo natural porque o modo de vida do homem contemporâneo já depende muito de interferências “criadas” por ele mesmo, a partir de tecnologias extremamente sofisticadas. Isso não existia no passado antropológico. A saúde do indivíduo era o seu bem mais importante. Não havia muito com quem contar em situações críticas e emergenciais. Ou você era competente para resolver um desafio ou morria. Ferimentos graves e fraturas múltiplas eram situações muito comprometedoras. Ficar quieto, com alguém por perto – para não ser comido por um predador – talvez fosse uma das poucas iniciativas possíveis. Quem sabe mastigar alguma erva para amenizar a dor? Invocar espíritos de cura? Algum amuleto? O que importa é que fomos vencedores e estamos hoje dispersos por todo o planeta onde seja possível caminhar.
Não satisfeitos, inventamos máquinas especiais e fomos também investigar os ambientes aquáticos, tentando imitar peixes e anfíbios. Estamos bisbilhotando as fossas abissais, com “olheiros” sofisticados que nos mostram criaturas incríveis, que gostaríamos de ver e tocar, bem perto. Mandamos espiões voadores para o planeta Marte e desejamos saber se existe vida um pouco mais distante. Somos criaturas tremendamente invasoras.
O nomadismo ainda está presente entre nós, como um impulso da pré-história a nos empurrar para o novo, cheios de curiosidades, mais aventureiro do que sensato, mais imediatistas do que conservadores. Isso pode ser perigoso...
domingo, 26 de setembro de 2010
O maior primata brasileiro ameaçado de extinção

Colaborador: Roberto Rocha
Necessidades urgentes > Ampliar o conhecimento sobre o status das metapopulações remanescentes; restaurar e recuperar ecossistemas florestais nas áreas de ocorrência das espécies; restaurar e recuperar nascentes nas bacias hidrográficas do Sudeste do Brasil; manter programas de reprodução em cativeiro; criar novas unidades de conservação próximas das áreas de ocorrência recente da espécie; divulgar informações biológicas sobre Brachyteles sp. de modo a auxiliar a tomada de decisões; elaborar projetos preservacionistas e captar recursos necessários para alcançar os objetivos pretendidos.
O Centro de Primatologia tem reconhecimento internacional por desenvolver pesquisas que auxiliam a compreender aspectos biológicos dos primatas não-humanos, com destaque para as áreas de manejo, reprodução, anatomia e patologia, de modo a salvaguardar nosso inestimável patrimônio natural e contribuir com seu conhecimento para outros centros de preservação no Brasil e em outros países.